Conheça o Projeto de Recuperação de Corais
Professor Ranilson de Souza Bezerra, do Departamento de Bioquímica da UFPE, foi o responsável pela coordenação do importante projeto de recuperação de corais, realizado no litoral de Pernambuco. Os professores Rudã Santos, Engenheiro de Pesca (UFPA), co-criador da startup BioFábrica de Corais, e Maria das Graças Cunha, graduada em Química Industrial e em Engenharia Química pela UFPE, lideraram a pesquisa. Essa ação teve o financiamento da empresa Uber do Brasil e o apoio da Fade.
Os recifes de corais são ambientes físico-químicos particulares, colonizados por uma biota morfo e fisiologicamente adaptada às condições dos ambientes costeiros. Considerados prioritários para os serviços ecossistêmicos, fornecem alimentos para a vida marinha e atuam como abrigos para a fauna local e migratória.
Além da contribuição para o ambiente costeiro e marinho, essas formações rochosas ajudam na sobrevivência humana – tendo papel na sua alimentação –, na manutenção climática, purificação da água e realizam outros papéis fundamentais na manutenção de um ecossistema estável e autosuficiente.
Tendo reconhecido a sua importância, sabe-se que uma das maiores catástrofes que pode interferir no ciclo dessas estruturas é o derramamento de petróleo. Esses acidentes provocam impactos imediatos ou tardios, gerando intoxicações agudas e crônicas no ser humano, nas espécies que vivem na região e fora destas.
A nível de danos econômicos, pode-se considerar os prejuízos na indústria costeira e também nas atividades ligadas ao turismo local. No ano de 2019, o litoral do Nordeste enfrentou a maior tragédia ambiental por derramamento de petróleo da história do Brasil. Um laudo produzido pela Polícia Federal em 2022, estimou um dano de R$ 525,3 milhões, segundo a Folha de São Paulo.
Cada derrame produz um tipo de impacto, dependendo das condições ambientais existentes, do tipo de óleo, volume e ecossistema atingido. Os contaminantes causam intoxicação nos organismos marinhos e podem contribuir para o estabelecimento de mutações genéticas. A partir dessas especificações, no contexto do acidente, as informações que funcionariam como um diagnóstico para solucionar a problemática não foram apontadas, tornando-se urgente o direcionamento de esforços para investigar os impactos do acidente e promover a apresentação de soluções.
Iniciativas como a startup BioFábrica de Corais, incubada pelo Polo Tecnológico da UFPE, são fundamentais para esse objetivo. O trabalho foi desenvolvido no litoral do Nordeste, inicialmente um projeto de pesquisa idealizado ainda em 2017, com ênfase nas praias do litoral sul e com centro de reabilitação de corais em Porto de Galinhas-PE. Futuramente, a ação poderá disponibilizar as metodologias desenvolvidas para outras regiões, conforme interlocução com outros grupos. Ressalta-se que, nesse cenário, a Uber Brasil promoveu a ação “Nordeste em Movimento”, empoderando com recursos financeiros e instrumentos técnicos, a população que foi atingida pelo desastre ambiental, econômico e humano que se segue ao vazamento de toneladas de óleo na região.
Dessa maneira, foi criado um conjunto de métodos de diagnóstico, auxiliando na recuperação e na transferência de tecnologia à comunidade local para a recuperação de colônias de corais construtores impactados. A Biofábrica de Corais tem promovido a restauração do ambiente recifal e, consequentemente, a sustentabilidade da atividade turística e ambiental. Para alcançar a proposta, implantaram duas espécies de corais construtores recifais: Millepora alcicornis (Coral-de-Fogo) e Mussismilia harttii (Coral-Couve-Flor – nativo do Brasil). Essa seleção ocorreu pela experiência da equipe no manejo das espécies e também devido aos serviços ecossistêmicos oferecidos por elas, como a proteção costeira, o fomento do turismo e a contribuição com a manutenção da biodiversidade recifal.
No Brasil, esta é a única startup que trabalha com transplantação de corais, ferramenta de baixo custo e prática, cada vez mais priorizada pelos órgãos internacionais de preservação, como a ONG WWF – World Wildlife Foundation. Esse trabalho se tornou um desenvolvedor de abordagens, não apenas um replicador de técnicas, porque no país ainda não existem outras equipes que desempenham métodos de transplantação associadas a conhecimentos de engenharia e biotecnologia.
Em 2022, a BioFábrica de Corais desenvolveu uma série de atividades, como o turismo regenerativo – ação voltada para a educação ambiental que utiliza ferramentas biotecnológicas, gerando processos e serviços beneficentes para a restauração dos recifes. Contando com o apoio de instituições, como a Fundação Grupo Boticário, por meio do projeto Coalizão pelos Corais, a startup tem por objetivo executar um programa de turismo científico para engajar a comunidade local na resolução do problema da degradação recifal e na demanda dos turistas por novas atividades.
Já o Projeto Coralizar visa restaurar corais na região Nordeste do Brasil, sendo uma iniciativa da WWF-Brasil e do Instituto Neoenergia, possibilita a implantação de parte significativa da estrutura necessária para a realização das atividades turísticas. Segundo Vinícius Nora, analista de conservação do WWF-Brasil, “Os berçários de corais são fundamentais para o planejamento e desenvolvimento de técnicas de restauração de corais em larga escala e de forma sustentável”. Este possibilitou suporte técnico, científico e operacional, a partir das parcerias com o Instituto Nautilus e o apoio das instituições UFPE e UFRPE, através do corpo técnico LABPIER-UFPE (Laboratório de Pesquisa em Ictiologia e Ecologia de Recifes), LABENZ-UFPE (Laboratório de Enzimologia Luiz Accioly), LIM-UFRPE (Laboratório de Invertebrados Marinhos), LABIO-LACEM (Grupo de Pesquisa em Antozoários) e LECEM-UFRPE, além do suporte da Associação dos Jangadeiros de Porto de Galinhas.
O CNPq, via o programa RHAE, tem possibilitado à Biofábrica de Corais incorporar profissionais estratégicos em seu time para ajudar a montar as operações relacionadas à implementação do programa que é associado à metodologia de restauração da Biofábrica de Corais.
As atividades de transplantação são divididas nas etapas: coleta de corais, com perda tecidual, do assoalho marinho; preparo e fixação dos fragmentos desses corais nos dispositivos de cultivo (berços); a acomodação dos berços nas mesas de cultivo, monitoramento e manutenção dos cultivos – pelo menos três meses; seguido da retirada dos berços das mesas e acomodação destes em rochas de 30/50cm durante seis meses; até serem transplantadas para o ambiente natural e monitoradas por no mínimo dois anos.
A BioFábrica de Corais já resgatou mais de 1000 fragmentos de corais tombados no assoalho marinho das piscinas naturais de Porto de Galinhas, preparando quase 4.000 mudas para serem cuidadas e devolvidas para a natureza. Viabilizando, assim, a devolução de mais de 600 fragmentos saudáveis para o ambiente, uma piscina natural que já não possuía mais coral da espécie Millepora Alcicornis.
Ainda em 2023, os pesquisadores pretendem dar escala para esses resultados, ampliando as áreas de atuação, sobretudo na área da APA Costa dos Corais, no âmbito do projeto Coralizar. Acelerando, assim, o desenvolvimento de novas tecnologias para realizar o manejo dos corais e focando em conceitos emergentes, como economia cíclica e aproveitamento integral de matérias primas negligenciadas.