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CAMTOTAL – Tecnologias para Aproveitamento Integral de Camarões Marinhos Submetidos a Diferentes Estratégias de Cultivo

Ranilson de Souza Bezerra, professor do Departamento de Bioquímica da UFPE, foi o responsável pela coordenação do projeto ”Tecnologias para Aproveitamento Integral de Camarões Marinhos Submetidos a Diferentes Estratégias de Cultivo”. Desenvolvido entre os anos de 2013 a 2021, o trabalho contou com o financiamento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o apoio administrativo da Fade-UFPE. 

A iniciativa teve o intuito de agregar valor à cadeia produtiva do camarão marinho, da pesca ou dos cultivos em diferentes estratégias de manejo. Produzidos no hepatopâncreas do camarão marinho, os genes foram identificados e caracterizados com o objetivo de ter um maior conhecimento da sua fisiologia digestiva. Com isso, estudou-se as aplicabilidades biomédicas e biotecnológicas – incluindo segmentos da aquicultura e o processamento de pescado –, contribuindo com a diminuição do uso de água, das cargas de efluentes nos cultivos despejados ao meio ambiente e das necessidades de ração a base de farinha de peixe; produzindo um camarão “ambientalmente amigável”.

Dessa forma, em parceria com a IRCA Nutrição e Avicultura, a equipe do Labenz realizou um experimento piloto. Utilizando um liquidificador industrial com um reator de 500l, o projeto preparou um hidrolisado protéico de camarão para adicioná-lo como componente de ração de peixe. Nesse processo, foi feita a separação física (filtragem) para remover as cascas e outros materiais insolúveis. Além disso, a logística se preocupou com a conservação e o acondicionamento do material, preservando a sua qualidade biológica.

A pesquisa, desenvolvida no LABENZ-UFPE (Laboratório de Enzimologia Luiz Accioly), avaliou a conservação da matéria prima em meio ácido, observando  a proporção ideal que foi capaz de conservar o produto e manter a atividade enzimática para obter o hidrolisado de camarão. Por meio da prática, monitorou-se o seu controle microbiológico, observando o tempo de prateleira do produto obtido. Destaca-se, também, que a adição do hidrolisado de camarão foi feita diretamente na formulação da ração extrusada – alimentos com cozimento industrial, esterilizados e com valor nutritivo –, em substituição ao óleo e à água que comumente são adicionados no processo da ração.

Por meio da iniciativa, os pesquisadores aprimoram ainda mais os seus conhecimentos, tendo acesso a um intercâmbio e participando de eventos científicos, como o 23rd Congress of the International Union for Biochemistry and Molecular Biology and 44th Annual Meeting of the Brazilian Society for Biochemistry and Molecular Biology – SBBq, em Foz do Iguaçu, 2015; o XIV Congresso Latino-americano de Ciências do Mar, 2011, Balneário Camburiú – SC. COLACMAR, no ano de  2011 e o SIMBOA – 1o Simpósio Internacional de Moléculas Bioativas e Bioprocessos de Organismos Aquáticos, realizado em 2015. 

Os impactos do projeto foram perceptíveis em vários âmbitos. A nível científico, consolidou parcerias com a iniciativa privada e as redes entre instituições – UFPE e a UNIFESP. Desenvolveram-se novas técnicas de aproveitamento integral de camarões; criaram tecnologias – sustentáveis e bioseguras –, adquirindo polissacarídeos sulfatados de camarões; foi reduzida a taxa de conversão alimentar dos camarões (via incorporação de biomassa de Artemia sp., como alimento vivo),  e viabilizado um sistema eficiente de tratamentos de efluentes. No que se refere às vantagens econômicas, elaborou-se produtos que foram inseridos na cadeia produtiva; diminuiu os custos de produção através da redução do uso de ração comercial e minimizou os custos com descartes de resíduos, produzindo um camarão com valor agregado ambiental.

A iniciativa transferiu tecnologia, contribuindo com a  formação dos estudiosos da biotecnologia de organismos aquáticos; obteve-se transcriptomas (sequenciamento genetico) de camarões de interesse comercial, cuja fisiologia é pouco estudada; ampliou o conhecimento sobre as biomoléculas de organismos aquáticos, o emprego industrial de resíduos provenientes do pescado e, em consequencia, reestruturou os laboratórios de pesquisa. Além disso, produziu diversas publicações científicas, monografias, dissertações de mestrado e tese de doutorado, estimulando o conhecimento sobre a temática. 

Assim, a partir da realização do projeto “Tecnologias para Aproveitamento Integral de Camarões Marinhos Submetidos a Diferentes Estratégias de Cultivo”, foram aplicadas novas técnicas à carcinicultura no Nordeste. Por meio dos estudos, constatou-se o grande potencial dos subprodutos dos camarões na forma de ração, como ingredientes ou aditivos alimentares, mas também nas suas aplicações dentro das indústrias de cosméticos, suplementos alimentares, fármacos e curativos. 

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