Chamada pública de doação de recursos para o projeto “Adote um Vira-Lata”
Reduzir o número de cães e gatos em situação de rua e prevenir a ocorrência de novos abandonos é uma urgência em todas as grandes cidades do Brasil. Além de se tratar de um problema ético, esta é uma questão de saúde pública, visto que o grande número de animais nas ruas aumenta a incidência de zoonoses, ou seja, da transmissão de doenças de animais para os humanos (e vice-versa).
Interromper o ciclo de reprodução e abandono de animais não é uma tarefa fácil, dada a alta taxa de reprodução desses animais e a ausência de políticas públicas de controle populacional (GARCIA, 2009). Desde o início dos anos 2000, várias cidades e estados brasileiros têm aderido à nova diretriz da OMS, proibindo a captura e morte de cães e gatos e substituindo-a pela oferta de cirurgias de esterilização gratuitas ou a baixo custo. Em setembro de 2010, essa medida foi aprovada em Pernambuco, com a Lei 14.139, que vedou o extermínio e preconizou que, em seu lugar, sejam executados programas de esterilização, vacinação e educação sobre a guarda responsável. Entretanto, a falta de experiência por parte dos gestores públicos tem levado à realização de ações dispendiosas e ineficazes, resultando em desperdício de verbas públicas e frustrações por parte da população. Contribuem para o fracasso dessas iniciativas a baixa divulgação da produção científica que deveria embasar essas ações, acerca de manejo populacional, zoonoses, comportamento animal e relações sociais entre humanos e animais de estimação.
Nesse contexto, é grande o potencial da extensão universitária e da pesquisação, pois, planejadas, executadas e avaliadas por equipes envolvidas com a produção do conhecimento científico, estas ações são capazes de elaborar e testar protocolos de ação a partir da prestação de serviços com base na produção acadêmica atualizada, em uma perspectiva interdisciplinar fundamental quando se lida com Saúde Única. O diálogo entre a educação, a filosofia e a medicina veterinária, que fazem parte dos estudos realizados pelo grupo, fazem perceber, por exemplo, que promover o controle populacional de cães e gatos não depende apenas de ofertar cirurgias de castração gratuitas. Mais que isso, o sucesso das ações exige levantar dados para estabelecer áreas prioritárias, realizar estudos para conhecer a população de tutores do local, suas condições de saúde e cuidados dispensados aos animais, treinar equipes capazes de sensibilizá-los para aderir tanto à castração quanto aos princípios da guarda responsável, para prevenir o abandono e a transmissão de zoonoses.
Nesse projeto, portanto, atua-se na formação de profissionais com visão interdisciplinar, experiência prática e preocupações éticas, capazes de enfrentar o desafio de sedimentar uma forma de convivência respeitosa e saudável com os animais não humanos, provocando impactos construtivos na saúde pública, ampliando o alcance da saúde única durante o desenvolvimento do projeto. Para tanto, os extensionistas são
envolvidos em diversas frentes de atuação: manejo populacional de cães e gatos, promoção de eventos de adoção, sensibilização de tutores para a prevenção às zoonoses e ao abandono, realização de pesquisas, grupo de estudos e participação em situações de debate sobre políticas públicas, como conferências, congressos acadêmicos e audiências públicas.
Os animais comunitários são alimentados diariamente por protetores voluntários e, além de castrados, são acompanhados quanto à sua saúde, vacinados, desverminados com frequência adequada e consultados por médicos veterinários sempre que necessário. Os animais vivem livres, nos prédios da instituição e as equipes voluntárias contam atualmente com um espaço para recuperação de animais cirurgiados ou em tratamento, ou ainda, quando há disponibilidade e necessidade, os animais são encaminhados para lares temporários de voluntários, até que sejam adotados ou estejam aptos a voltarem para a vida na comunidade acadêmica.
Entre os resultados alcançados até agora, além dos importantes serviços prestados para a comunidade atendida, as entidades de proteção e os cães e gatos castrados, resgatados e adotados com o intermédio do projeto, é importante citar a participação dos extensionistas em diversos congressos e a realização, no âmbito do projeto, de uma tese de doutorado sobre relações sociais com cães e gatos (LIMA, 2016), uma tese de doutorado sobre castração pediátrica (SILVA, 2019) e onze trabalhos de conclusão de curso, versando sobre educação ambiental (VALENÇA, 2012), comportamento animal (SILVA, 2015), formação de professores (CAVALCANTI, B. 2016), políticas públicas de manejo de cães e gatos (CAVALCANTI, A. 2016), guarda responsável de animais adotados (SOUZA, 2017; AMORIM, 2019), percepções sobre zoonoses (BRIZENO, 2017; SANTOS, 2019), experiência de manejo populacional (SOUZA, 2018; SILVA, 2019) e práticas de guarda responsável (BARBOSA, 2018, BARRETO, 2019), além de outros trabalhos de conclusão de curso e mestrado sendo desenvolvidos nas áreas citadas.